Diálogo entre Maria Lúcia Miyake e Geane Poteriko (Curitiba PR) >> VIDEO
Lúcia. Eu sou Maria Lúcia Miyake Okumura, professora e pesquisadora em tecnologia assistiva. Faço parte do grupo de engenharia de produção e sistemas. Em 2014 eu conheci a Geane.
Geane. Eu sou a Geane Poteriko, sou professora e também faço parte do núcleo de pesquisa da Lúcia. Fui inserida nesse contexto da inclusão e da acessibilidade a partir do nascimento da minha filha Dara. Foi uma surpresa muito grande quando eu recebi a minha filha com uma deficiência física, que é a agenesia de mão. Na época eu não tive nenhum suporte e foi nessa ausência que eu recebi um chamado. Eu conheci a Lúcia em 2014, a Dara tinha poucos meses de vida e foi aí que tudo começou.
Lúcia. Quando eu conheci a Geane, e recebi vários e-mails dela, vi uma mãe sem apoio nenhum, sem um acolhimento correto, né? E ela visava uma parte faltante da criança.
Geane. Eu estava vendo apenas a deficiência do meu bebê, eu apenas via a questão da agenesia e não percebia que ela era uma criança totalmente funcional que iria aprender a fazer absolutamente tudo. O dispositivo protético 3D na verdade é um recurso para apoiar, para ajudar em determinadas atividades, para trazer mais autonomia junto com a reabilitação física. E a Lúcia me veio como a pessoa que me estendeu a mão, que te trouxe todo o conhecimento que eu precisava, não só para ajudar a mim mesma mas também ao próximo.
Lúcia. Quando eu conheci a Geane comecei a entender que ela tinha um vazio no coração dela e ao mesmo tempo ela tinha uma sede de conhecimento, uma vontade de aprender. Então a primeira coisa que eu via assim eram várias mães na mesma situação, onde a Geane começou a trabalhar, e eu falei algo assim: “Geane, que tal você trocar a sua experiência com outras mães?” Desde as dores e também as conquistas de uma criança, hoje são vários pais do Brasil inteiro que estão juntos e eles trocam experiências. Além disso, no projeto, colocamos também a estrutura de manutenção e confecção das próteses. Colocamos também os profissionais de Tecnologia Assistiva, que são de serviços e também de produtos. Essa estrutura chegou a uma forma que não comportava mais ser apenas um grupo de pais e sim teve que abrir e fundar a Associação “Dar a Mão”.
Geane. Que é uma entidade sem fins lucrativos no formato de organização social, e que tem atuação nacional e internacional. Hoje são mais de três mil famílias assistidas diáriamente. Nós identificamos as áreas que a família precisa, desde a parte médica até a questão de inclusão educacional, a parte de atendimento mesmo, ou pelo teleatendimento, ou pelo atendimento presencial. Trabalhamos também oferecendo cursos de capacitação. A nossa rede de voluntariado é muito grande pois está no Brasil inteiro. A Associação Dar a Mão trabalha totalmente de forma voluntária, então nossos profissionais não são remunerados, toda a nossa diretoria, que tem representantes do Brasil inteiro e de outros países, não recebe remuneração, é apenas a solidariedade que move. Entendemos que a criança consegue fazer absolutamente tudo com o “coto”, com o membro com agenesia, a questão principal é a reabilitação, é um apoio para o trabalho de reabilitação.
Lúcia. E é com esse dispositivo que ela vai agregar sentido ao dia a dia dela. A personalização auxilia na reabilitação da criança, ela fica mais animada. Aqui eu tenho uma que é um design feito por um voluntário de Caruarú, Pernambuco, ele fez para uma menina que queria ser a “mulher maravilha” (Wonder Woman).
Geane. O que eu realmente quero é que todas essas famílias que chegam até nós saiam dessa condição de dor para ir para a condição de ativismo, de luta pela causa da pessoa com deficiência. Para mim, como propósito de vida, é conseguir chegar em um parquinho e levar minha filha para brincar que ela possa brincar com outras crianças sem ter nenhum tipo de diferenciação, nenhuma atitude de estranheza. Isso pode ser gerado a partir desse amplo movimento de luta, de ativismo, não apenas de falar sobre inclusão, mas de agir neste contexto de inclusão.
Lúcia. Temos que viver o outro, né? E conhecer a diversidade da sociedade, isso para compreender as limitações e as especificidades de cada pessoa. Eu acho que essa troca vai nos trazer um mundo melhor.